Dono do X, antigo Twitter, o empresário Elon Musk causou um alvoroço na sua rede social por ter afirmado que não vai cumprir as ordens judiciais brasileiras assinadas pelo ministro do STF Alexandre de Moraes e pedir a renúncia do ministro, que, segundo ele, teria traído a Constituição brasileira.

Também disse que vai reabilitar as contas de usuários bloqueados, na maioria, agentes políticos da chamada extrema-direita do Brasil que perderam seus perfis na rede social porque, no entendimento do ministro do STF, atentaram contra a democracia brasileira.

Sobre o X

O Twitter, X, tem um dono. O dono é Elon Musk, um dos homens mais ricos do mundo.

Desde que comprou a rede social, não esconde que, por ser sua, ninguém deve dar pitaco sobre a administração.

Musk é um entusiasta da chamada extrema-direita mundial. Chegou a falar que financiaria golpe de Estado contra quem se colocasse na frente de seus interesses, como foi especulado quando Evo Morales, então presidente da Bolívia, renunciou em 2019.

A Bolívia tem uma da maiores jazidas de lítio do mundo. O lítio é matéria-prima para baterias de veículos elétricos, como os produzidos pela Tesla, empresa de Musk.

No fim de semana, musk disse que as decisões judiciais de alexandre de moraes contra usuários também identificados com a extrema-direita não seriam cumpridas, assim como prometeu retomar as contas hoje suspensas.

Se foi um blefe ou uma decisão concreta, os próximos capítulos poderão nos dizer.

O que tem real valor, agora, é como o ambiente do X, antigo Twitter, assimilou os posts de Musk e passou a discutir o assunto de uma maneira que reforça a polarização e gera engajamento para todos os envolvidos.

Em qualquer mídia social, seja ela do Musk ou do Zuckerberg, o engajamento é a essência do negócio. Na prática, é o responsável pelo faturamento do empreendimento e sustenta a rede.

De um lado, usuários identificados com a extrema-direita levantando a bola de Musk, mesmo que o empresário não tenha levado adiante nenhuma ação concreta, nem em relação ao fechamento do escritório do X aqui no Brasil, decisão que poderia levar ao fim do Twitter em território nacional, nem em relação aos perfis bloqueados pela justiça.

Do outro, usuários identificados com um segmento cada vez maior da esquerda brasileira que trata o ministro alexandre de moraes, do STF, como um semideus, implorando que o ministro intervenha com o superpoder da toga e feche a rede social no brasil.

Isso mesmo que você entendeu, estavam pedindo o fechamento do Twitter no próprio Twitter. 

Houve, inclusive, quem se aproveitou da situação para pedir a retomada da discussão do projeto de Lei 2630 no Congresso. 

O projeto tem a intenção de criar lei brasileira de liberdade, responsabilidade e transparência na internet, e procura dar força à classe política na relação com as redes sociais. Não se trata censura propriamente dita, mas de dar poder à nossa classe política para que ela tenha alguma influência sobre o ambiente digital.

Como resposta o ministro Alexandre de Moraes decidiu incluir Musk como investigado tanto no chamado Inquérito das Milícias Digitais, como em um novo inquérito aberto apenas para apurar essa conduta do bilionário.

O que está muito claro nesse falso debate é que nenhuma das partes vai além da página 2:

Nem Musk cumpre o que promete e nem Moraes, que poderia determinar o fechamento da rede social no Brasil, por exemplo, opta por uma decisão contestável e que não terá nenhum efeito prático. Fico imaginado Musk, que não vive no Brasil, sendo julgado e eventualmente condenado com a proibição e entrar no nosso país. Como se daria isso? Iriam abater o avião dele? Da vez que Musk esteve aqui, ele sequer passou por um de nossos aeroportos.

Me lembrou aquela história de o TCU investigar o então presidente Donald Trump durante a pandemia. Tão ridículo quanto.

O jogo aqui é de ganha-ganha.

Musk ganha, e muito, com o engajamento e com a posição de super-herói da extrema-direita brasileira, e Moraes reforça veja só, também ganha porque reforça seu papel de super-herói desse segmento crescente da esquerda brasileira que o apoia acriticamente.

Que a extrema-direita eleve à condição de super-herói qualquer oportunista. ok. é o expediente deles. agora, tem gente que busca replicar isso pela esquerda, cada vez mais entregue à institucionalidade que por muito tempo disse combater.