O Portal PODER 360 fez um levantamento interessante sobre o comportamento do governo Lula em relação à compra de espaços publicitários nos veículos da mídia hegemônica. (Confira aqui: https://bit.ly/4amm6ox)

Com base nos dados de 2023, o PODER 360 chegou à seguinte conclusão: Globo e afiliadas receberam 60% mais de anúncios em 2023, primeiro ano de Lula, do em 2022, último de Bolsonaro, e concentrou 56% de todos os anúncios televisivos no ano passado.

Entenda como esses números podem influenciar na cobertura jornalística das ações do governo pelo grupo de comunicação.

O Grupo Globo é o maior conglomerado de mídia do Brasil e um dos maiores do mundo. A produção de seu canal aberto, a TV Globo, chega aos quatro cantos do País, com qualidade e que não se compara a dos concorrentes.

Geralmente esse é o argumento utilizado para defender o que expôs o Poder 360 no infográfico que mostra quanto a TV Globo, afiliadas e canal de notícias, a Globo News, ganharam só com publicidade federal no primeiro ano do governo Lula.

Só em 2023, as emissoras próprias e afiliadas abocanharam 142 milhões de reais, e concentraram 56% dos anúncios televisivos, enquanto ficaram bem abaixo os canais RecordTV (43 mi), SBT (35 mi), Band (13 mi), RedeTV (3 mi), e CNN Brasil (2 mi) 

Você se engana se acha que durante o governo Bolsonaro foi muito diferente: é verdade que nos dois primeiros anos a Globo comeu o pão que o diabo amassou, podemos dizer assim, mas na segunda metade do mandato recuperou o posto de primeira no pódio.

Ainda com base no levantamento do Poder 360, em 2019 a Globo (42 mi) viu a RecordTV (63 mi) tomar seu lugar, assistiu a ultrapassagem do SBT (60 mi), e amargou a 3° posição.

Em 2020, a Globo (62 mi) ultrapassou o SBT (61 mi), mas seguiu atrás da RecordTV (72 mi). Só recuperou a liderança em 2021.

No geral, considerando todas as modalidades de anúncios publicitários, por meio de comunicação, o governo Lula gastou menos em 2023 do que o governo anterior no seu primeiro ano, lá em 2019.

Não é de hoje que Lula e Globo formam uma dupla, ainda que a base do presidente nem sempre enxergue dessa maneira. Nos governos anteriores de Lula também havia uma predileção pela Globo, com alguma abertura à Record de Edir Macedo, que ainda não conseguiu reconquistar o prestígio junto ao Palácio do Planalto neste Lula 3.

Se a impressão para quem acompanha mídia é a de que no terceiro mandato de Lula só a Globo tem vez, essa impressão foi confirmada pelo levantamento do Poder 360.

Ah, mas a Globo é a maior e merece a maior fatia dos recursos públicos voltados à publicidade. Ok. Concordo, mas não é o que está havendo.

Antes, todos sabemos que é um ciclo vicioso: A Globo é grande porque sempre teve vantagens e recursos que as outras não tiveram e não têm, e tem as vantagens e recursos porque é grande.

Mesmo com alguns aparentes ruídos que não chegam a ser embates, muito menos aquelas campanhas desprezíveis contra Lula e o PT, a cobertura da Globo das ações do Lula 3 não esconde sua "boa vontade" de ajudar na missão de "União e Reconstrução", e também de defender a democracia.

Claro, sempre que na economia prevaleça o neoliberalismo rasteiro que sucateia o Estado e impõe o subdesenvolvimento e a miséria para todos nós, mesmo que sob a roupagem bonita dos costumes liberais.

A Globo que ecoou as manifestações das Jornadas de Junho de 2013, e viu Dilma se reeleger no fio da navalha em 2014, depois amplificou e consolidou o impeachment da ex-presidente Dilma, deu suporte midiático a Lava Jato, de Sergio Moro, STF e cia, e levou Lula à prisão, agora tenta convencer a sociedade, por meio da exaustão, que as coisas estão melhorando porque o governo estaria implementando sua agenda: de novo, neoliberal na economia e liberal na agenda de costumes.

É um roteiro fabuloso para obra de ficção, mas não para a nossa realidade nua e crua.

O governo deve bancar peças publicitárias para não só informar sobre suas campanhas, como a de vacinação ou o uso de preservativos, mas também, e principalmente, mostrar as realizações.

A disparidade identificada no ano passado e que pode se fazer registrar de novo esse ano não se justifica.

Leonel de Moura Brizola morreu em 2004, e disse uma vez o seguinte:

Quando vocês tiverem dúvidas quanto a que posição tomar diante de qualquer situação, atentem: Se a Rede Globo for a favor, somos contra. Se for contra, somos a favor.

Não precisa considerar a ferro e fogo o que disse Brizola, mas, no mínimo, voltar a ter algum grau de senso crítico e perceber que essa relação não é saudável ao governo, que pode ser alvo/vítima a qualquer momento de qualquer grupo de comunicação se tomar decisões que contrariem os interesses desse grupo, e muito menos à sociedade, que banca tudo e ainda segue desinformada com a tal informação imparcial. O único que ganha, e muito, é o grupo.